É PRECISO TENTAR, A VIDA AINDA NÃO ACABOU!Provavelmente no momento em que Cage, Rauchenberger, Cunnigham e muitos outros redefiniam o papel das expressões artísticas no século XX com performances, happenings, .... num mix de todas as manifestações da arte: música, teatro, poesia, artes visuais......, em um lugar bem distante de New York, porém não menos famoso devido a Jorge Amado e sua inesquecível Gabriela, um garoto tímido, franzino iniciava-se no teatro.
As primeiras experiências foram no Ginásio Municipal de Ilhéus. Na peça Chapeuzinho Vermelho, ele era o caçador que entrava em cena com uma espingarda disparando um tiro. Nada mais que isto. Numa outra vez com outro colega fez um dueto cantando uma música em italiano.
A principal experiência foi encenar “A bruxinha que era boa” de Maria Clara Machado, na qual teve um papel de destaque com o personagem “ Pedrinho’. Auditório lotado na estréia!
Na seqüencia, o garoto foi convidado para fazer novela no rádio. Muito comum naquela época. Os pais não consentiram.
Mas o garoto gostou da experiência e começou a dirigir peças com irmãos, primos, colegas da escola e da rua. Encenava suas peças (naquela época dramas) em quintais, varandas e outros lugares não muito apropriadas. E tinha platéia, sim!
Entretanto, a maior ousadia foi encenar uma peça tendo como palco uma mesa de ping-pong. Pode crer! Em cima da mesa a peça se desenrolou.
Não seria naquele momento, mesmo inconsciente e sem conhecimentos, uma sacada do que acontecia em New York, Berlin e mundo afora?
Depois disto, o artista que mal acabava de nascer, morre ou foi morto por si mesmo, pela ignorância da família e/ou crueldade da comunidade! O garoto não foi protegido pelo “São Jorge dos Ilhéus”, outro romance de Jorge Amado.
A vida seguiu seu curso igual ao de todas as pessoas comuns. Escola, universidade, diploma, anel de formatura, emprego, casamento, filhos e coisas que tais.
Mas, aquela alma artista angustiada por circunstâncias da vida ficou dividida entre Marx e Freud, dois grandes ícones. O primeiro garantiu o sustento da vida e da família, o segundo lhe monitora até hoje.
O artista fez fotografia. Nos momentos de crise escrevia/escreve o que denomina “psico-asneira’. O garoto sempre foi “arteiro”.
Na apresentação do seu site, Maria Sampaio amiga, irmã, comadre, mabaça bivitelina, declarou: “depois de cumprir gloriosamente o seu lado economista, educar suas meninas, deixou que sua arte estuporasse pelos sete buracos da sua cabeça em forma de ensamblagem”.
O artista chegou a terceira idade e costuma dizer que se não estivesse ensamblando estaria atirando pedras em vidraças. Mesmo considerando que correu mundo e viu que as coisas poderiam ter sido diferentes, ou até porque viu. Vá saber!
Evidentemente que estou falando de mim. Já deu para notar, né?
Recentemente lembrei-me da peça encenada em cima da mesa de ping-pong e, cheguei a conclusão que naquele momento nasceu e morreu um artista, talvez com as características dos artistas que fizeram a diferença no século XX.
Concluindo, creio que introduzi mais uma pergunta sem resposta para minha tumultuada existência. Porque deixei aquele artista morrer tão cedo?
O artista tenta ressuscitar, ensambla cacos, experiências passadas, vivências mis e outras coisas mais. E segue, mesmo sem respostas para tudo, sem saber se já não é muito tarde para correr atrás do prejuízo. MAS É PRECISO TENTAR, A VIDA AINDA NÃO ACABOU!
Luciano Freitas
Itacaré, 2/5/2009